Você marcou o nosso encontro perto da sua casa, mas bem longe da minha. Eu nem sugeri outra coisa porque queria muito encontrá-la e não permitiria nada que nos impedisse de nos ver. Às vezes tenho a impressão de que uma chuva fina banha nossos encontros. É o céu abençoando, ou apenas confirmando que nos vemos menos do que o azul se mostra para o sol. Temos tantas afinidades e somos tão diferentes ao mesmo tempo, mas gostamos de nos relacionar com os outros além de nós mesmas. Você gosta de frequentar os lugares em que chama as pessoas pelo nome e elas também reconhecem com quem estão falando, não por seu sobrenome, ou posição social, mas porque você as olha nos olhos e sorri o mesmo riso que você solta quando me vê, ou ouve um áudio em que sei exatamente o comentário meu que você vai achar graça. Eu ainda me impressiono como os nossos mundos distantes se cruzaram e como você edificou o seu de um jeito ainda mais especial do que qualquer uma de nós poderia sonhar quando nos conhecemos. Você superou as expectativas do mundo e as de nós mesmas e eu pude assistir e aplaudir seus passos em cada um de nossos encontros, que às vezes tem o espaço de meses ou de anos entre eles. E olha que moramos na mesma cidade! Só que você cria seu reduto, uma camada protegida por esses "conhecidos" que você sabe o nome, alguém na padaria, alguns porteiros do bairro, com quem você troca "bom dia" e "boa noite", funcionários do mercado, da padaria e de alguns restaurantes próximos, sem contar o vendedor da livraria e algum "flanelinha" da praça mais próxima. Quem precisa de mais contatos que isso? Tendo esse mundo tão acolhedor, porque no fundo é você que acolhe cada uma dessas pessoas, quem precisaria de redes sociais? Eu! Você mal usa as suas. Eu preciso delas para o meu mundo ampliado, um imenso bairro para abarcar meus desejos e frequentar nos intervalos de nossos encontros. Então sei que visitarei seu bairro, seus arredores, sua nova casa, ou apenas seu riso, falaremos de nossas leituras, livros, séries, poesias, família, amores, canções, aprendizados, reflexões, terapias… Vamos nos despedir com imensa saudade achando que arrumaremos um jeito de conviver mais. Marcaremos outros encontros imaginários e torceremos para que aconteçam em um futuro próximo. Já nem sei se vale a pena sonhar com isso… Mas a frustração de não acontecerem nunca é maior que a alegria do dia em que novamente chega o momento da chuva fina, não qualquer uma, mas alguma, aquela que chega como uma bênção, no dia que conseguirmos nos ver de novo.
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Conto com você!
No encontro mais recente que tive com esta amiga ela me recomendou o podcast "Cartas de um terapeuta”, de Alexandre Coimbra, que ela nem tinha terminado de ouvir mas que escolheu para a manhã que antecedeu a chuva fina e o nosso encontro.
O epsódio chama-se “O elogio da amizade”. Voltei pra casa ouvindo essas palavras incansavelmente belas e que recomendo demais que você ouça também.
Até o nosso próximo encontro, com essa ponte que se faz quando seus olhos tocam o que escrevo.
:)
Aline***