O arrebatamento
Como conheci meu marido e o início da história que inspirou um livro que escrevi
Na semana passada perguntei se queriam saber mais detalhes de como conheci meu marido. Escrevi um livro sobre isso. A verdade é que apesar de já estar escrito naquelas páginas (lançadas em 2016 e esgotadas no ano seguinte, se não me engano, mas ainda dá pra comprar em sebos), é algo que posso contar e recontar mil vezes. Tem sempre um gostinho especial e uma forma nova de dizer.
Meu pai tinha acabado de descobrir uma remissiva do câncer, então passamos a perambular (eu e minha irmã do meio) ao lado dele, por hospitais e clínicas, para exames e mais exames, e para o próprio tratamento. Eu tinha 25 anos na cara mas com sonhos de uma menina de 15. Sempre achava que o grande amor da minha vida estaria por aí circulando pelo mundo e a qualquer momento poderíamos nos cruzar, como nos filmes. Aliás eu tinha assistido um na infância, que não faço ideia de nome, cujos personagens demoraram demais para se encontrar após combinarem algo no "céu". Acho que eram "almas-gêmeas". As cenas dos desencontros me causam taquicardia até hoje, mesmo estando somente em uma longínqua memória da minha cabeça. Toda a cultura em que cresci fomentava isso "antes de ir a padaria passe batom, pois pode conhecer seu grande amor". Essas mensagens subliminares estavam nos filmes, nos livros, no inconsciente coletivo e, apesar de extremamente machistas, eram um preenchedor de vazios internos, pois a possibilidade de, preenchia toda a falta da realidade, principalmente para uma sonhadora como eu.
Em um exame que acompanhei meu pai, lembro de ter ficado aproximadamente 6 horas na lanchonete do hospital, eu estava atenta a todos que entravam e saíam, até que um loiro, de jaleco branco, jovem e com um rosto de Brad Pitt ( o grande galã da minha geração) entra para tomar um café. Eu pensei em mil formas de chamar a sua atenção, sabia que podia ser minha alma gêmea e aquele poderia ser o nosso encontro marcado no céu antes de nascermos. Mas não tive coragem de fazer nada. Ele foi embora pelos corredores do hospital. E com ele nosso futuro juntos… Aquela perda não me saía da cabeça. Um texto escrito por um amigo dizia "amor à última vista", que é quando não damos a chance para algo acontecer. Então, no dia em que acompanhei meu pai para um outro exame, eu já estava calejada na decepção e pronta para não deixar passar mais nenhum potencial grande amor da minha vida. E quando a porta abriu eu soube, aliás ainda não soube, mas suspeitei "pode ser ele". Outro médico jovem (e vejam que eu não tinha fantasia com médicos é que a ocasião acabou privilegiando a profissão, até então jamais tinha me aproximado de outros, meu meio profissional era sobretudo feminino, já não fazia mais faculdade e tampouco me interessava por baladas, tinha passado essa fase, então o ambiente mais propício para conhecer alguém interessante acabou sendo os hospitais e clínicas que eu ia como acompanhante, uma forma lúdica de enfrentar aquele momento obscuro da doença do meu pai. Eu não ia só acompanhar o grande homem que amava em uma consulta a respeito de uma doença tão trágica, eu ia também descobrir se aquele seria o dia em que eu conheceria o próximo homem da minha vida.
E assim o conheci. Quando a porta abriu foi o nome do paciente anterior que ele disse, e ao vê-lo um arrebatamento instalou-se dentro de mim. Ele tinha 29 anos, mas uma aparência ainda mais jovem e incomum em médicos. Os ombros largos, cabelos castanhos e um queixo proeminente. Um rosto lindo e um conjunto que me impressionou. Lembro que recorri ao banheiro mais próximo para me arrumar como pude. Lembro que não me senti bonita ou bem vestida naquele dia, o quanto eu gostaria de estar, para os olhos dele. Lembro de tanto, deste dia…
Quando meu pai foi chamado eu entrei junto, só que na primeira oportunidade ele me pediu para sair. Eu tinha acabado de revelar a minha fragilidade ao contato com sangue, achando que isso poderia ser charmoso. Muito sério ele disse que eu não poderia, então, acompanhar o exame. Mais tarde eu saberia que essa conduta era profissional e que a preocupação dele era atender, com atenção completa, o paciente, e que já tinha tido problema com desmaios de acompanhante. "Já pensou ter que cuidar de um acompanhante que desmaia, quando estou examinando o paciente e não posso interromper o exame?"
O exame consistia em tirar uma partícula da medula óssea perfurando o paciente com uma agulha própria. Um processo bem doloroso e complicado de interromper. Do lado de fora da sala pude ouvir meu pai conversando e logo me passou pela cabeça "ele ficará encantado". Meu pai era um encantador de pessoas, nunca conheci alguém que o conhecesse e não fosse encantado por ele. Assim que o assistente saiu da sala e me avisou que eu já podia entrar, porque o exame tinha terminado, eu entrei. Logo de cara vi nos olhos dele o que eu já tinha previsto, o encantamento pelo meu pai, porém dessa vez percebi que meu pai também manifestava encantamento, os dois sorriam e tinham os olhos muito brilhantes um para o outro. Tanto que depois ele me disse "naquele dia gostei mesmo do seu pai, antes de gostar de você". E foi recíproco, pois meu pai passou a transferir a atenção destinada a ele para mim, contar que eu estava escrevendo um livro, e não era comum meu pai fazer isso. Então lembro que ele me olhou sorrindo, com muito mais receptividade que em nosso primeiro contato e perguntou: “É? Você está escrevendo um livro? Vou querer ler o que você escreve!"
E foi a escrita, esta mesma que agora você lê que me uniu ao amor que tanto sonhei, foi em palavras escritas que nos enlaçamos primeiro e criamos uma profecia que só eu tinha percebido que existia.
No primeiro e-mail que enviei a ele eu citei Nietzsche "Médico, ajuda ti próprio: assim ajudas também a teu doente. Que ele veja com seus olhos aquele que cura a si próprio". E ele finalizou a sua resposta com a frase "(...) acho que esse contato iniciado por nós pode de alguma forma trazer frutos".
Hoje, o conhecendo melhor, acredito que os "frutos" se referiam a trocas literárias, poéticas, intelectuais que poderíamos ter, uma afinidade que sempre nos uniu. Mas naquela ocasião eu me perguntava se frutos seriam um relacionamento mais sério entre nós, ou até mesmo os filhos que poderiam vir. Dizem que as palavras escritas tem poder. Ele não sabia, mas aquele e-mail era uma profecia. Viriam frutos. Mas o tempo traiçoeiro surpreenderia toda e qualquer expectativa.
Enquanto preparo essa newsletter para você, leitor, releio alguns trechos do livro que escrevi e fico, ainda hoje, impressionada com a beleza dele. Não é porque ele é meu, é uma jóia! Então, se ainda não leu, eu o encorajo a procurar pelo meu nome nas plataformas de livros usados. Você não vai se arrepender. Depois me conta!
Percebo que o tema que me dispus a escrever aqui, embora já tenha sido explorado em um livro todo, continua sendo inesgotável para mim. Eu poderia escrever outro livro sobre esse acontecimento que me arrebatou.
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Uma semana de arrebatamentos belos e até a próxima news!
Aline***
Olá Aline, apesar dos percalços de estar acompanhando seu pai num exame a vida é cheia de surpresas. Veja o que é o amor dois grandes homens da sua vida com historias diferentes um te deu a oportunidade de ser filha e o outro de ser mãe. Ambos vida. Que Deus te abençoe e ilumine sempre. Abraços fraternos.